quarta-feira, março 31

Dia Internacional do Livro Infantil

Apesar de na próxima sexta-feira ser feriado (Sexta-feira Santa), não quisemos deixar de falar no Dia Internacional do Livro Infantil que, todos os anos, se celebra a 2 de Abril.
Este dia foi criado em homenagem ao escritor dinamarquês Hans Christian Andersen e é comemorado na data do seu nascimento. Esta homenagem deve-se ao facto de este escritor ter publicado, no século XVII as primeiras histórias infantis, inicialmente recolhidas, depois criadas por ele, sendo, por isso, considerado o pai da literatura Infantil.
Entre essas histórias estão, por exemplo "O Patinho Feio", "A Pequena Sereia" e "O Soldadinho de Chumbo".

Para conheceres melhor Hans Christian Andersen e recordares alguns dos seus contos, sugerimos que visites os sítios que a seguir indicamos.

Contos de Andersen


Actualmente, a data é comemorada mundialmente, em mais de sessenta países, como forma de incentivar e despertar nas crianças o gosto pela leitura.

Tal como acontece todos os anos, a DGLB (Direcção-Geral do Livro e das Bibliotecas) publica um cartaz para assinalar este dia. Este ano o cartaz é da autoria da Madalena Matoso, vencedora do último Prémio Nacional de Ilustração com o Livro "A Charada da Bicharada" de Alice Vieira.

Também todos os anos, a IBBY(1), a entidade que promove a nível mundial as comemorações, convida um escritor ou escritora a redigir uma mensagem de incentivo à leitura, dirigida às crianças de todo o mundo. A mensagem deste ano é da escritora espanhola Eliacer Cansino. Podes lê-la aqui, traduzida para português.

Mensagem do 2 de Abril de 2010, Dia Internacional do Livro Infantil
Um livro espera-te. Procura-o
Era uma vez
um barquinho pequenino,
que não sabia,
não podia
navegar.

Passaram uma, duas, três,
quatro, cinco, seis semanas,
e aquele barquinho,
aquele barquinho
navegou.



Antes de se aprender a ler aprende-se a brincar. E a cantar. Eu e os meninos da minha terra entoávamos esta cantiga quando ainda não sabíamos ler. Juntávamo-nos na rua, fazendo uma roda e, ao despique com as vozes dos grilos no Verão, cantávamos uma e outra vez a impotência do barquinho que não sabia navegar.
Às vezes construíamos barquinhos de papel, íamos pô-los nos charcos e os barquinhos desfaziam-se sem conseguirem alcançar nenhuma costa.
Eu também era um barco pequeno fundeado nas ruas do meu bairro. Passava as tardes numa açoteia vendo o sol esconder-se à hora do poente, e pressentia na lonjura – não sabia ainda se nos longes do espaço, se nos longes do coração – um mundo maravilhoso que se estendia para lá do que a minha vista alcançava.
Por detrás de umas caixas, num armário da minha casa, também havia um livro pequenino que não podia navegar porque ninguém o lia. Quantas vezes passei por ele, sem me dar conta da sua existência! O barco de papel, encalhado na lama; o livro solitário, oculto na estante, atrás das caixas de cartão.
Um dia, a minha mão, à procura de alguma coisa, tocou na lombada do livro. Se eu fosse livro, contaria a coisa assim: «Certo dia, a mão de um menino roçou na minha capa e eu senti que as minhas velas se desdobravam e eu começava a navegar».
Que surpresa quando, por fim, os meus olhos tiveram na frente aquele objecto! Era um pequeno livro de capa vermelha e marca-de-água dourada. Abri-o expectante como quem encontra um cofre e ansioso por conhecer o seu conteúdo. E não era para menos. Mal comecei a ler, compreendi que a aventura estava servida: a valentia do protagonista, as personagens bondosas, as malvadas, as ilustrações com frases em pé-de-página que observava uma e outra vez, o perigo, as surpresas…, tudo isso me transportou a um mundo apaixonante e desconhecido.
Desse modo descobri que para lá da minha casa havia um rio, e que atrás do rio havia um mar e que no mar, à espera de partir, havia um barco. O primeiro em que embarquei chamava-se
Hispaniola, mas teria sido igual se se chamasse Nautilus, Rocinante, a embarcação de Sindbad ou a jangada de Huckleberry. Todos eles, por mais tempo que passe, estarão sempre à espera de que os olhos de um menino desamarrem as suas velas e os façam zarpar.
É por isso que… não esperes mais, estende a tua mão, pega num livro, abre-o, lê: descobrirás, como na cantiga da minha infância, que não há barco, por pequeno que seja, que em pouco tempo não aprenda a navegar.
ELIACER CANSINO
Tradução: José António Gomes
(1) International Board on Books for Young People

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